Artigo

Impacto da catástrofe gaúcha na economia do Brasil

Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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A catástrofe que assolou o Rio Grande do Sul ainda não foi devidamente avaliada no âmbito da economia do estado e tão pouco na economia do País. O certo é que as projeções de crescimento da economia brasileira, de 2,5% para 2024, deverão ser revisadas, em função da importância da economia gaúcha no PIB nacional, pelo menos em três das maiores regiões afetadas pelas enchentes - Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale dos Sinos e Serra gaúcha - que contribuem com R$ 220 bilhões para a atividade econômica brasileira. Nessas regiões estão concentradas 23,7 mil indústrias que empregam, em torno de, 450 mil pessoas.
A tragédia no Rio Grande do Sul, que já provocou 169 mortes computadas até o presente, certamente terá impacto em pelo menos três frentes no crescimento do PIB brasileiro deste ano: no setor agrícola, na indústria, especialmente no setor de farmaquímicos e farmacêutica (cosméticos e remédios) que o RS tem destaque e na questão fiscal brasileira. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), as enchentes atingiram 94,3% de toda atividade econômica do estado. No setor agrícola onde o Rio Grande do Sul contribui com 77% do arroz irrigado colhido no País, além do milho, feijão, alho, cebola, trigo, soja, uva e outras tantas frutas, produtos importantes consumidos pela população brasileira.
Em relação ao arroz, segundo dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), a safra 223/2024 deve ficar em torno de 7,1 milhões de toneladas, mesmo com as perdas pelas inundações que sofreu. Como o consumo doméstico de arroz no Brasil é de cerca de dez milhões de toneladas, é possível que não seja necessário importar o produto visto que a contribuição dos estados de Santa Catarina, Tocantins e Goiás complementam a necessidade total de consumo no País.
O estado também tem destaque na produção animal, bastante atingida pelas enchentes onde foram perdidos bovinos, suínos e aves, destinados a produção de carne e derivados que devem ter seus preços aumentados para o consumidor brasileiro. O setor industrial de peças para veículos, máquinas e equipamentos agrícolas deve ter baixas na produção, ainda não avaliado em termos de volume e dificuldades no transporte. O Brasil já enfrentou outras grandes crises que afetaram o crescimento da economia nacional. Em 2001, por exemplo, uma seca contribuiu para uma crise de racionamento de energia e apagões. A economia nacional, que havia crescido 4,4% no ano anterior, desacelerou para 1,4%. Mas, apesar da contribuição da seca, o cerne da crise de 2001 não foi o clima, mas sim gargalos na linha de transmissão, que impediram o Brasil de distribuir energia pelo País. O momento extremamente crítico é de ajuda aos gaúchos desabrigados, mas é preciso compreender que a economia é prioritária para entrar em pauta na reconstrução do estado.

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